RACISMO ESTRUTURAL

Cotista da USP: "Quando a banca me declarou branco fiquei chocado", relata Glauco do Livramento

"Desde sempre fui ‘zoado’. Brincadeiras que descendentes de negros sofrem. Até xingamentos já sofri", relata o estudante, que conquistou na Justiça a vaga no sistema de cotas na Faculdade de Direito da USP.

Glauco Dalalio do Livramento, estudante cotista da USP.Créditos: Reprodução / Facebook
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Em depoimento emocionante ao jornal O Globo, o estudante Glauco Dalalio do Livramento, de 17 anos, comemorou a decisão do juiz Randolfo Ferraz de Campos, da 14ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, que determinou sua matrícula na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Filho de uma atendente de telemarketing e de um auxiliar de obra da prefeitura, o estudante, que é pardo, havia sido barrado na política de cotas da universidade. O caso ganhou o noticiário nos últimos dias e levou a própria USP a rever a sua política de análise dos cotistas.

"Depois de tanto trabalho e angústia, tive a vaga de volta. É como se tivesse passado duas vezes, me inscrito duas vezes na USP. Meu irmão estava na hora que recebi a resposta do recurso [judicial] e ficamos os dois pulando e gritando pela casa. Falei com meus pais e todos vieram me parabenizar de novo", conta em depoimento ao jornal.

Livramento relata ainda a saga que viveu para passar na faculdade pública, trabalhando das 8h às 12h e estudando das 14h30 às 21h30, "numa rotina de adulto trabalhador" e da decepção ao saber que teve a matrícula cancelada por ter sido barrado na banca examinadora da política de cotas.

"Eu estava atrás de moradia em São Paulo (sou de Bauru), e recebi a primeira negativa por e-mail. A banca de heteroidentificação classificou a minha foto como inconclusiva. Achei estranho, mas não liguei muito. Mas veio a videochamada. Me apresentei, li a minha autodeclaração, desligaram e acabou. Pensei que estava tudo bem. No outro dia veio a negativa em maiúsculas: ‘Matrícula cancelada’", relatou.

Em seguida, o estudante lembra do racismo que sempre sofreu por ser pardo.

"Desde sempre fui ‘zoado’. Brincadeiras que descendentes de negros sofrem. Até xingamentos já sofri. Como passei por esse tipo de preconceito durante toda a minha vida, quando a banca me declarou branco fiquei chocado. Sofro o que pessoas negras sofrem mas não posso ser considerado pardo?", declarou.

Ao final, o estudante fala do futuro, que vai começar justamente no dia em que completa 18 anos.

"Agora só quero ir para São Paulo, entrar no meu alojamento, me instalar e, se tudo correr bem, começar segunda-feira. Vou entrar com o pessoal da terceira chamada. E o melhor de tudo, no dia 11 é meu aniversário. No meu aniversario, estarei começando no meu sonho."

Leia a íntegra no jornal O Globo
 

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