‘ESTRELO SOLITÁRIO’

John Textor pode ser banido do futebol brasileiro

Depois de acusar clubes e árbitros de manipularem resultados do Brasileirão, o dono do Botafogo precisa apresentar suas provas; Ele vai enfrentar processos da CBF e de todas instituições que citou

John Textor dá suas primeiras declarações conspiratórias após derrota para o Palmeiras de virada no Rio.Créditos: Reprodução/Premiere
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John Textor, o empresário dos EUA dono da Saf que controla o Botafogo, ainda não se conformou com a dolorosa perda do Brasileirão 2023, quando seu clube deixou escapar uma histórica vantagem obtida no primeiro turno da competição e viu o Palmeiras ultrapassá-lo rumo ao título. Ele fez acusações na última segunda-feira (1) contra clubes e árbitros, apontando possível manipulação de resultados, e agora pode até ser banido do futebol brasileiro a depender do desenrolar dos acontecimentos.

Baseado em relatórios produzidos por meio de inteligência artificial, o bilionário botafoguense foi para o ataque contra Palmeiras, São Paulo e Fortaleza durante uma entrevista. Segundo o jornalista André Rizek, do Sport, a Good Game, empresa contratada por Textor para a produção dos relatórios, também presta serviços para a Federação de Futebol do Rio de Janeiro.

Seu relatório cruza dados estatísticos de jogadores e aponta partidas em que os atletas analisados não desempenharam nem perto da média. Em teoria, os dados podem apontar indícios de manipulação de resultados baseados nos desempenho dos atletas, mas para provar o crime é preciso que haja uma investigação mais aprofundada.

Textor realmente acredita que o futebol brasileiro tem sido manipulado nos últimos dois anos para favorecer o Palmeiras. O problema é que os dois jogos que ele apontou no seu argumento têm poucas chances de terem sido manipulados.

Um deles foi a goleada do Palmeiras por 4 a 0 sobre o Fortaleza, na últimas rodadas do Brasileirão 2022. Naquela ocasião, o Alviverde entrou em campo já matematicamente campeão graças a uma derrota do Internacional, que disputava o título, um dia antes. O segundo jogo apontado por Textor é outra goleada palmeirense, dessa vez por 5 a 0 contra o São Paulo, um rival que dada a história entre os clubes jamais venderia um resultado de Choque-Rei, como é conhecido o clássico.

Nesta terça-feira (2) o Palmeiras anunciou que entrou com uma ação no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) contra o empresário. O clube se sente lesado pelas declarações do dirigente botafoguense e exige que ele apresente provas. Caso contrário, pede à Justiça Desportiva que o botafoguense seja punido financeiramente e suspenso por cada ataque à instituição.

Também citado por John Textor, o Fortaleza repudiou as declarações e anunciou, ainda na segunda-feira, que “tomará as medidas judiciais cabíveis”.

“Lamentamos que essas afirmações proferidas, sem a apresentação de quaisquer provas, possam macular a reputação de nossa instituição centenária, gerando assim danos na imagem do clube. Não acreditamos nessa forma de fazer futebol, preferimos o caminho da verdade, e caso o Sr. John Textor tenha provas, que as apresente para que os culpados sejam punido”, diz a nota do clube.

Por sua vez, o São Paulo Futebol Clube também acionou John Textor no STJD e a Justiça comum, exigindo que se explique sobre as acusações. Nas redes sociais, o presidente Julio Cazares gravou um vídeo com duras declarações a respeito do empresário.

“Lamentavelmente, as colocações expressadas por ele atingem diversas instituições, assim como o São Paulo. Uma entidade de 94 anos que sempre defendeu valores éticos e morais. Isso não pode ficar assim. O São Paulo tomará medidas práticas e objetivas no STJD, na esfera cível e criminal. É lamentável que instituições importantes do futebol brasileiro sejam atingidas por um ato impensável, irresponsável e sem nenhuma conotação ao Botafogo. Ele é dono de uma SAF. O Botafogo, como instituição, tem o nosso respeito e a nossa admiração. Estamos aqui para defender atletas, funcionários, dirigentes e a própria torcida do São Paulo. Uma instituição de respeito. Para finalizar, quero dizer ao senhor John Textor, que se ele não conhecia a instituição São Paulo Futebol Clube, agora ele vai começar a entender o que é ser São Paulo Futebol Clube no cenário do futebol brasileiro”, afirmou Cazares.

Mas não são apenas os clubes que estão se defendendo as acusações de Textor. Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, entrou com uma queixa-crime contra o dirigente por calúnia e difamação no 9º Juizado Especial Criminal do Rio de Janeiro. A entidade também estuda processá-lo no STJD.

De acordo com o artigo 223 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, as penas de Textor no STJD – caso condenado – podem variar de 90 dias a um ano de suspensão, além de multa que pode chegar a R$ 100 mil. Além disso, por conta das inúmeras reincidências em fazer as denúncias sem apresentar provas, pode até ser banido do futebol.

É o que disse, por exemplo, o advogado Andrei Kampff, ao Uol: “O fato é que se ele não apresentar essas provas que ele entende como irrefutáveis, aí a punição vai vir e vai vir pesada. Não só na Justiça Desportiva, existe um caminho na Justiça Criminal, uma queixa-crime por difamação, o Palmeiras, o São Paulo já se manifestaram. Essa queixa-crime é de iniciativa privada, os clubes podem se manifestar, o juiz pode tentar uma conciliação. Se não há conciliação e o juiz entende que o clube realmente foi ofendido, que há uma difamação, abre-se um processo e o Textor pode ser condenado também na Justiça comum”.