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Popularidade de Lula, comunicação, política e o que realmente nos falta - por Domingos Leonelli

O que está faltando ao nosso Governo à esquerda, aos partidos e à sociedade é um sonho de país. Algo que o governo apresente não como uma realização sua, mas como uma obra a ser construída.

Domingos Leonelli, secretário nacional de Formação Política do PSB.Créditos: Reprodução / PSB
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Militantes, dirigentes partidários e figuras de proa do governo federal tem alimentado uma confusa discussão sobre os índices de aprovação do governo e a popularidade do governo Lula que apresentaram leves quedas e talvez signifiquem uma tendência nesse mesmo sentido.

Mais preocupante do que a oscilação é a tendência. Mas muito mais preocupante do que as duas é a manutenção do prestigio e da força da ultra direita representada pelo bolsonarismo. Isso há mais de um ano depois dele não ser mais governo.

Quanto à discussão sobre a popularidade do governo, a primeira e mais óbvia manifestação é acusar a comunicação do governo de não conseguir comunicar bem as realizações governamentais. A segunda é que a popularidade teria caído por causa de duas ou três frases equivocadas do presidente. A terceira, do próprio Lula, é de que o governo está “entregando” menos do que prometeu.

Discordo das três.

Culpar a comunicação isoladamente é não compreender que mais do que nunca, na sociedade do conhecimento, a política é a comunicação. E a comunicação é a própria política. É a mesma relação entre linguagem e pensamento. E os detalhes técnicos formais da comunicação são irrelevantes. Sua eventual correção não resolve o problema que é político. E não é só do governo mas também dos partidos e da sociedade.

Em segundo lugar atribuir a diminuição dos índices às manifestações do próprio Lula é de um obvio oportunismo. Quem faz isso sabe que frases não influenciam pesquisas.

E em terceiro lugar discordo também do presidente quando ele diz que está entregando menos do que prometeu. Suas promessas de campanha foram, basicamente, voltar ao passado maravilhoso dos seus primeiros governos, esquecer um pouco do governo Dilma e fazer o Brasil sorrir de novo. E isso o governo vem cumprindo.

Gastando, positivamente, o estoque do passado Lula trouxe de volta o Minha Casa Minha Vida, o Bolsa Família ampliado, o Mais Médicos, a Farmácia Popular, a elevação (pequena) do salário mínimo e a redução do desemprego.

E o governo foi até mais além na área da educação com o programa Pé de Meia e na área da economia com um uma nova política industrial. Tudo isso poderia ser melhor comunicado? Talvez.

A comunicação do governo, seguindo uma onda política e comunicacional da Rede Globo e de uma parte da esquerda, aderiu um pouco ao identitarismo? Talvez.

Mas nada disso explica o não crescimento da popularidade do governo e do presidente e a manutenção da força política e de opinião da extrema direita. Uma força mantida pela firmeza ideológica traduzida em ideias morais (ou moralistas) e de uma visão de país sem corrupção, sem aborto, sem “socialismo”, sem drogas e com liberdade absoluta para o capital e a propriedade privada. Deus, Pátria e Família.

Tudo falso e enviesado. Mas sem dúvida, um projeto de pais. Que se sustenta mesmo fora do governo.

O que está faltando ao nosso Governo à esquerda, aos partidos e à sociedade é um sonho de país. Algo que o governo apresente não como uma realização sua, não como uma propaganda deste ou daquele ministério, mas como uma obra a ser construída por todos os brasileiros, homens e mulheres, pretos e brancos, civis e militares, trabalhadores e empreendedores. Um Projeto Nacional de Desenvolvimento traduzido de forma clara em linguagem popular, nem de longe populista e demagógica.

Um projeto que aponte clara e fortemente para a redução das desigualdades mas também para uma ideia de grandeza do Brasil e que inclua uma verdadeira Reforma Tributária, uma Reforma Agrária, que radicalize e aprofunde a Neo Industrialização entre outras medidas estruturais.

É necessário articular os programas que já estão sendo executados com uma proposta mais ampla e profunda. Mesmo que essa proposta não possa ser realizada nos períodos de um ou dois governos. Mas que seja iniciada já.

Sei que os governantes não apreciam programas partidários. Preferem que as realizações de seus governos sejam atribuídas às pessoas dos presidentes, governadores e prefeitos. Mesmo sabendo disso, gosto de pensar que seria muito bom que o Presidente Lula desse uma lida no programa do PSB que tem uma introdução intitulada BRASIL, POTÊNCIA CRIATIVA E SUSTENTÁVEL.

“Uma inserção soberana na economia globalizada, com a valorização do desenvolvimento interno e a superação das desigualdades, é o objetivo estratégico a ser concretizado em um Projeto Nacional de Desenvolvimento que maximize nossas muitas potencialidades de forma criativa e sustentável”.

A frase no início dessa introdução é seguida pela afirmação de que “o sonho socialista brasileiro assentasse sobre as bases da nossa realidade, tanto no plano de recursos naturais como no potencial criativo de nosso povo, de nossas empresas, de nossas universidades e centros de pesquisa. Transformaremos nosso sonho em realidade agregando a inovação, a cultura, a pesquisa científica, e o avanço tecnológico que caracterizam a era do conhecimento florescente no século XXI às nossas imensas reservas naturais de água, solo fértil, sol, Amazônia e biodiversidades terrestres e marinhas. E construiremos um Brasil como potência alimentar, energética, mineral, tecnológica e cultural”.

O texto sobre o Brasil, Potencia Criativa e Sustentável, prossegue com capítulos sobre Planejamento Estratégico, Energia, Água, Biodiversidades, Agricultura, Amazônia, Amazônia Azul, Mineração, Turismo, Criatividade e Inovação. 

A leitura desse texto está disponível nos sites do PSB e do Socialismo Criativo.

Domingos Leonelli é Secretário Nacional de Formação Política - PSB